quarta-feira, 22 de agosto de 2012

2.

Daddy, querido daddy,

Não te deixei.
Não me fui embora para sempre.
Não fui sem antes me despedir.
Não chorei na partida papá, chorei com o (re)encontro.
Não supliquei para que viesses e me seguisses.
Não fiz promessas.
Não levei a casa atrás e deixei os sentimentos todos guardados numa gaveta. 
(...) Tu sabes onde me deixas-te, onde agora estou e onde sempre desejei estar. Estou cá em cima a olhar por ti. Não morri - mas sinto-me morta.
(...) Desculpa, mas só agora vivo no paraíso - dentro do castelo encantado. 
Não sou a princesa, não sou a rainha, nem nenhuma escrava a servir o seu amo. 
Sou eu, bem cá em cima - genuína. 
Podes vir ter comigo. Podes até sentar-te ao meu colo, podes dizer que me adoras e rir das minhas asneiras. 
Podes até fazer perguntas, mas sabes que não te vou responder... 
Sempre fui assim, má comigo mesma, cruel comigo mesma e ligeira nas palavras.
(...)
Sabes o que sonhei na primeira noite fora?
Sabes o que senti na primeira noite sozinha?
Medo.
Dor.
Solidão.
Desespero.
Fraquezas.
Coragem.
Frio.
Calma.
Paz. 
(...) Vês daddy, continuo ainda a ser o teu anjo da guarda, que te guia, que te cuida, que te escuta, que te sustenta o coração. 
Continuo ainda a olhar em frente, a subir colinas, a tentar cair com a cabeça levantada e a sorrir como se o  ser humano não sofresse. 
E é verdade, não é papá? Eu não sofro.
(...)
Eu reajo perante o susto, perante o medo, perante a dor, perante a solidão, perante o desespero, a coragem, as fraquezas, o frio, a calma e a paz. Eu supero.
Eu supero papá. 
Por ti, por mim, por nós.
E nestas alturas, nestas alturas eu nunca choro - eu sorriu. 

Telma Palma